
Nos corredores fechados da política baiana, onde promessas ecoam mais alto do que certezas, uma figura tem ganhado contornos de protagonista no jogo sucessório de 2026: o prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP). Apontado como nome preferido do ex-prefeito de Salvador e atual vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, Cocá tornou-se peça-chave no xadrez que tenta redesenhar o poder no estado.
A revelação, publicada pelo jornalista Jairo Costa Jr., na coluna do Metro1, dá conta de que aliados do núcleo duro de Neto veem em Cocá a chance de ouro para equilibrar a balança contra o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT), principalmente no território onde o petismo reina com folga: o interior baiano. Em 2022, Jerônimo venceu em 364 dos 417 municípios do estado, deixando ACM Neto para trás com apenas 53 — um placar avassalador que ainda dói entre os aliados do ex-prefeito da capital.
A escolha por Cocá, segundo fontes ouvidas pela reportagem, não é aleatória. O prefeito de Jequié é descrito como uma liderança em ascensão meteórica, com raízes firmes e influência crescente em pelo menos 13 cidades do Sudoeste e do Vale do Rio de Contas — entre elas, Ipiaú, Itagibá, Jitaúna, Ubatã, Itagi e até Aiquara, berço natal do próprio governador Jerônimo.
Com um histórico eleitoral que beira o improvável — de prefeito de uma cidadezinha de 4 mil habitantes a comandante de um dos maiores municípios da região, e com reeleição esmagadora em 2024 com 92% dos votos — Zé Cocá reúne o que a oposição precisa: capital eleitoral, presença regional e, sobretudo, popularidade.
Mas a realidade política, tal como um romance fantástico de Gabriel García Márquez, é fluida, imprevisível e cheia de reviravoltas.
Apesar do entusiasmo de ACM Neto, a peça central do seu tabuleiro pode estar migrando de cor. Desde o início do ano, Zé Cocá vem acenando discretamente — mas com consistência — para o governo petista. Tornou-se anfitrião de Jerônimo em Jequié e tem retomado laços com lideranças da base governista. Um movimento silencioso, mas que reverbera nos bastidores como um vendaval.
Na cúpula do PP, as opiniões se dividem: há os céticos, que veem a reaproximação com o PT como ponto final em qualquer aliança futura com Neto; e os esperançosos, que acreditam que a política, assim como a fé, move montanhas — e alianças. A federação entre PP e União Brasil, por exemplo, ainda mantém uma ponte acesa entre os dois campos.
Nos bastidores, um velho cacique do União Brasil confidenciou que ACM Neto ainda “sonha” com a chapa majoritária tendo Cocá como vice. Mas reconheceu que, neste momento, o sonho “caminha no fio da navalha”, ameaçado pela sedução vermelha que ronda o coração do prefeito jequieense.
Com isso, o enredo da sucessão de 2026 ganha contornos de realismo fantástico: uma trama onde aliados flertam com adversários, onde a liderança é disputada com sorrisos e visitas oficiais, e onde o interior da Bahia pode decidir novamente o futuro do Palácio de Ondina.
Enquanto isso, Zé Cocá segue fazendo o que poucos conseguem: sendo cortejado por todos — e prometendo a ninguém. * Redação Ipiaú TV