O urbanista ipiauense, arq. Elson Andrade, nos traz, nesta edição, uma reflexão crítica sobre os 30 anos do Plano Real, com uma surpreendente comparação sobre a evolução da Selic, a qual superou — e ganhou de lavada — da Poupança e do IPCA, na Correção Monetária (poder aquisitivo do dinheiro no tempo), numa análise em perspectiva da denominada Economia Política brasileira.
E, por fim, qual seria o valor atualizado de uma dívida no cartão de crédito de R$ 1,00, atualizado nesses 30 anos do Plano. Confira!
Em 2024, o Plano Real completou 30 anos, sendo reconhecido como um marco estabilizador da economia brasileira após anos de hiperinflação. Um levantamento exclusivo, baseado em dados de correção monetária de julho de 1994 a janeiro de 2025, revela significativas disparidades no desempenho de indicadores como a Selic, a poupança, o IPCA e o preço da gasolina.
Economia Política –“Duas Moedas Oficiais” no Brasil: Real e Títulos da Dívida Pública Federal:
No Brasil, há “duas moedas oficiais” garantidas em conversão de poder aquisitivo: o Real, considerado a moeda dos pobres, que perde valor com a inflação, e os títulos da dívida pública federal, considerados a moeda dos ricos, que ganham juros reais acima da inflação. Essa disparidade ressalta a desigualdade existente no acesso ao crédito, aos baixos investimentos e na preservação do poder de compra dos assalariados no Brasil.
Agora responda – você sabe dizer de onde vem os recursos para pagar o custo da dívida pública federal que já bateu o recorde de R$ 7,3 trilhões em dezembro de 2024?
Desempenho da Selic e a Persistente Desigualdade Salarial:
A taxa básica de juros (Selic) acumulou uma valorização impressionante de 8.761% no período. Comparativamente, a gasolina e a caderneta de poupança registraram altas de 1.774%, enquanto o IPCA, índice oficial de inflação, alcançou 728%.
Uma simulação mostra que um investimento hipotético de R$ 1 milhão em julho de 1994, corrigido pela Selic, atingiria R$ 88,6 milhões em 2025. Já a mesma quantia na poupança renderia R$ 18,7 milhões, um valor 4,7 vezes menor. Esse contraste reflete a política de juros altos no Brasil, que favorece aplicações financeiras, mas historicamente eleva o endividamento público e o custo do crédito.
Enquanto isso, o IPCA acumulou alta de 728% no período, valor que, embora significativo, é inferior aos rendimentos da Selic e da Poupança. Isso indica que investimentos conservadores superaram a perda do poder de compra. Contudo, a situação se complica ao analisar o salário mínimo, que teve uma correção de apenas 1.104%, inferior à inflação de itens como a gasolina, evidenciando a erosão do poder de compra das famílias.
Gasolina e o Custo de Vida: Uma Pressão Constante:
O preço da gasolina, com uma alta de 1.774%, superou a inflação geral, ficando próximo da correção da Poupança. Esse dado ilustra o impacto das commodities e combustíveis no orçamento doméstico, especialmente em um país dependente do transporte rodoviário. Para efeito de comparação, se um litro de gasolina custava R$ 1 em 1994, hoje custaria R$ 18,74, refletindo variações cambiais, tributos e crises internacionais.
Perspectivas e Desafios Futuros:
Os números destacam a dualidade do Plano Real: de um lado, a estabilidade monetária e o controle da inflação; de outro, juros elevados e desigualdades no acesso a investimentos. Enquanto a Selic beneficia detentores de capital, a maioria da população enfrenta o encarecimento de itens básicos, como combustíveis, sem ganhos salariais equivalentes.
Especialistas afirmam que o desafio para os próximos anos será equilibrar políticas monetárias com inclusão social, garantindo que a correção de indicadores econômicos não aprofunde disparidades. Três décadas após a implementação do Real, a lição é clara: estabilidade econômica não é suficiente sem equidade.
Para aqueles que ainda acham que o Brasil é para amadores, imagine a hipótese de você ter se enrolado com uma dívida de apenas R$ 1,00 no cartão de crédito, e assistindo a dívida crescer, ano a ano, sem poder pagar a dívida que teria tido início no período de 01 de julho de 1994 e 31 de janeiro de 2025, tal qual o tempo de existência do Plano Real… podemos seguir os cálculos seguindoos passos, em primeiro, para calcular o número de meses inteiros entre as datas, considerando uma taxa de juros efetiva tal qual os cartões tem cobrado da população brasileira, CET de 17,78% ao mês:
- Contar o número de anos entre as duas datas: de 1994 a 2025 são 31 anos.
- Converter os anos em meses: 31 anos * 12 meses/ano = 372 meses.
- Subtrair os meses incompletos: julho de 1994 é um mês completo e janeiro de 2025 também é um mês completo.
Portanto, há um total de 372 meses inteiros entre 01 de julho de 1994 e 31 de janeiro de 2025.
Abaixo temos o pornográfico resultado aferido pela calculadora do Banco Central do Brasil, que atingiu R$ 274.546.931.360.270.082.121.924.608,00(duzentos e setenta e quatro sextilhões, quinhentos e quarenta e seis quintilhões, novecentos e trinta e um quatrilhões, trezentos e sessenta trilhões, duzentos e setenta bilhões, oitenta e dois milhões, cento e vinte e um mil, novecentos e vinte e quatro reais e seiscentos e oito centavos).
Para finalizar, você sabe dizer de quem era na verdade o dinheiro-lastro que esse hipotético banco usou para lhe conceder esse crédito de R$ 1,00?
Como diria minha avó: – Durma com uma dessa, num país desse, e, diga que passou a noite bem?
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Da redação: Elson Andrade – que é arquiteto, urbanista, empresário desenvolvimentista, pós-graduado pelo Instituto de Economia da Unicamp.