
Questionado, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou que o município de Ipiaú firmou o compromisso de inserir, até o dia 31/07/2025, no Painel de Transparência do órgão, todos os demais cachês referentes ao São Pedro 2025.
Até o momento, a Prefeitura Municipal de Ipiaú (PMI) inseriu apenas uma contratação, entre cerca de trinta atrações previstas para o evento. Com isso, os gastos totais com a festa têm passado despercebidos, especialmente em comparação com outros municípios que já aparecem no painel com cerca de R$ 10 milhões gastos apenas em cachês artísticos — em sua maioria, de artistas de fora da região. Esses números não incluem despesas com estrutura de palco, iluminação, som, ornamentação, transporte, translado, hospedagem, alimentação, entre outros.

Chama a atenção a apresentação fragmentada de dados, que tenta sustentar a ideia de uma suposta vantagem econômica milionária para os municípios contratantes. Em muitos casos, os argumentos utilizados pelas prefeituras — como a alegação de que os salários da população se multiplicariam por dez no mês de junho, ou que turistas injetariam cifras extraordinárias nas cidades — carecem de comprovação técnica. Em algumas estimativas exageradas, os benefícios econômicos superam diversas vezes o valor total pago em cachês, dando margem à suspeita de que essas contratações atendem mais a interesses político-estratégicos do que ao interesse público. “Não adianta mais falar… já virou uma descaração em plena luz do dia”, disse, indignado, um radialista da cidade.
Considerando-se os investimentos realizados pelos governos federal, estadual e municipais, é possível que os festejos juninos na Bahia, em 2025, alcancem a marca de R$ 1 bilhão em gastos.

Esse cenário contrasta com a realidade de um estado que poderá ser impactado negativamente pela iminente Reforma Tributária, com efeitos já previstos para janeiro de 2026. Vale destacar que a Bahia acumula um déficit na balança comercial de R$ 523 bilhões desde 2017, reflexo da baixa produção local de bens e serviços, quando comparada às regiões Sul e Sudeste do país. Isso é ainda mais paradoxal considerando que o estado da Bahia teve papel pioneiro na organização do poder público desde o período colonial, com Salvador como primeira capital do Brasil em 1549. “Meu filho, relaxa. Se desde aquela época os baianos não deram um salto desenvolvimentista, você acha que vai ser agora ou com essa reforma que isso vai mudar?”, ironizou uma comerciante local, que pediu anonimato por temer represálias de natureza política ou ideológica.
Para se ter ideia da proporção, o São Pedro de Ipiaú de 2024 teve um custo total equivalente ao valor do recapeamento asfáltico histórico realizado no município — obra esta que custou cerca de R$ 9 milhões, com recursos oriundos de um empréstimo de R$ 20 milhões, a ser pago com juros que elevam o montante final a R$ 34 milhões, numa relação próxima de 1:4.
Não há dúvidas de que a festa de 2025 também terá custo multimilionário, o que reforça a importância de maior sintonia entre o Executivo e o Legislativo Municipal. Isso inclui a aprovação do remanejamento total de verbas do orçamento da LOA-2025, o que, somado às flexibilizações já existentes, confere ao Executivo liberdade plena sobre 100% do orçamento aprovado.

Tal fato, dada a dimensão do evento e os precedentes de 2024, levanta suspeitas de possível falta de transparência ou omissão de dados no Painel do MP, especialmente quanto à integralidade dos contratos artísticos. No ano passado, os gastos com cachês não contemplaram outros custos relevantes, como estrutura, logística e segurança.

Segundo divulgado na mídia local — embora não conste no site oficial da prefeitura — a edição 2025 do São Pedro de Ipiaú ocorrerá entre os dias 27 e 30 de junho, na Praça de Eventos Álvaro Jardim. O evento contará com dezenas de atrações de renome regional e nacional, com valores de cachês elevados. Dentre os confirmados:
- Ana Castela
- Edigar Mão Branca
- Lordão
- Donas do Bar
- Daniel Vieira
- Gustavo Mioto
- Rafinha Big Love
- Solange Almeida
- Maiara e Maraisa
- O Grelo
- Tayrone
- Calcinha Preta
- Bruno e Marrone
- Nattan
- Zé Neto e Cristiano
- Natanzinho Lima
- Henry Freitas
Também haverá apresentações de artistas locais — com cachês consideravelmente menores — nos intervalos das atrações principais. Segundo grade divulgada à época pelo então secretário de Cultura, Caio Braga, subirão ao palco: Larissa Souza, Juninho dos Teclados, Cupim de Ferro, Pé de Badoque, Forró Carretel, Eduardo, Netinho Cabral, Juninho Boy, Kal Firmino, Kiko Cigano e Andinho Brito.
Fato Adicional de Relevância:

Há necessidade de apuração sobre eventual atuação de agentes partidários na escolha e/ou intermediação de contratações artísticas, tanto em Ipiaú quanto em outras cidades. Caso se confirme a participação de pessoas sem vínculo funcional com a Administração Pública, pode-se configurar intermediação indevida e até mesmo ilícita.
Diante disso, em respeito aos princípios da legalidade, moralidade e transparência que regem a Constituição Federal, solicita-se:
- Esclarecimentos sobre os critérios que levaram à concessão do Selo de Transparência do MP-BA a prefeituras que ainda não publicaram a integralidade de seus gastos;
- A instauração de procedimento investigatório para averiguar a veracidade e totalidade dos contratos e pagamentos realizados;
- Investigação sobre a possível interferência de agentes externos na seleção e negociação de artistas;
- Revisão da concessão do título de “Município Transparente 2025” diante de indícios de omissão de dados.
Por fim, vale lembrar que o MP-BA disponibiliza um canal direto para denúncias no Painel de Transparência dos Gastos com os Festejos Juninos